domingo, 17 de maio de 2009

Uma viagem no tempo

Banhada pelo Atlântico, com uma capacidade hoteleira super esgotada, a denominada Praia da Claridade conheceu um conjunto de inovações impostas pelo anterior executivo municipal, Pedro Santana Lopes.
A Câmara Municipal tem apostado na promoção e no rejuvenescimento da imagem da localidade, que nos anos 40 e 50 foi a menina do olhos dos muitos turistas que nos visitaram.
"Praia de Sempre", como a apelidou Sebastião Pimentel Monteiro, a Figueira vive agora do turismo, da animação e do movimento que é intenso na praia e nas ruas junto ao Casino.

A cosmopolita praia da Figueira, que em 1858 já era considerada a melhor do país, começou a alinhar barracas muito cedo. Acompanhou o crescimento do turismo nacional e assistiu ao desfilar de toilettes típicas da sociedade elegante e mundana que frequentava a mais linda praia de banhos de Portugal, como a definiu Ramalho Ortigão. O escritor, ao espalhar uma série de adjectivos pelas estâncias balneares da época, disse ainda que a grande baía compreendida entre o Cabo Mondego e a embocadura do rio desenha uma curva encantadora, lembrando os mais risonhos e os mais doces golfos do Mediterrâneo.
Chapéus ornamentados com laçarotes, botinas de cano alto, e os imprescindíveis saiotes, até ao chão, marcavam a moda feminina que também vestiu a praia da Figueira no princípio do século. Com um ar sério, os homens, de bigode e olheiras, faziam sobressair dos fatos escuros os colarinhos apertados. As luvas agarravam a bengala que marcava a era dos palhinhas e das polainas.
Os mais pequenos seguiam pela mão das criadas (trajadas a rigor), copiando a indumentária dos adultos que povoavam a praia, mas cuidadosamente resguardados do sol! A entrada e saída do mar eram envoltas num cerimonial bastante complicado, já que banhar o corpo e gozar o regalo da água era privilégio restrito.
Os miúdos, de sandálias e chapéu na cabeça, chilreavam como pardais em saudáveis brincadeiras: apanhavam conchas e davam corridas até chegar a hora do almoço, refeição que normalmente terminava com o tradicional melão.
As raparigas andalusas deixavam no ar trilos rutilantes no período triunfal de cada época. Havia um esplendor aristocrático nas esquinas do Bairro Novo, zona que entretanto ia crescendo.


Uma típica família portuguesa







Antero de Quental inspirou-se no pôr-do-sol da Figueira para, na sua poesia À Beira Mar o Crepúsculo, escrever:

Gigante imenso de esplendor e brilho
O Sol, um instante, viu-se ali lutar
Depois cansado, declinando rápido
A lassa fronte repousa no Mar.



À noite os cafés regorgitavam. As orquestras pincelavam de música ás esplanadas. A Figueira saboreava os quentes anos da sua vida.
Os prédios caiados, o bafo do mar e a claridade do céu, conferiam à Figueira um estatuto único pedaço de encantamento, recorte afável e onde a sedução anda embalada, como frisou a poetisa figueirense Carmen Duarte.

Os anos foram passando, os espanhóis apareciam cada vez mais (salvo quando foi a Guerra Civil de Espanha) e a Figueira foi crescendo.
O turismo dava os primeiros passos! Desde então, ao longo de mais de um século, a história e o desenvolvimento turístico da cidade confundem-se frequentemente com a do grandioso teatro que em 1900, após importantes obras de remodelação, passou a chamar-se Grande Casino Peninsular.
A mais linda praia de banhos portuguesa, ficou assim, detentora da melhor sala de diversões do país tornando-se num importante pólo de atracção, à volta do qual se foi construindo um novo aglomerado, o Bairro Novo de Santa Catarina especificamente dirigido aos veraneantes e futuros frequentadores da Figueira da Foz.
No Páteo das Galinhas, no Picadeiro ou nos cafés, respirava-se o ambiente cosmopolita de uma cidade virada para o turismo. Na memória ficam ainda as festas do Casino, as garraiadas infantis e o convívio entre naturais e visitantes.








Nas páginas antigas que relatam a história da Figueira da Foz, pode verificar-se que diversas unidades hoteleiras marcaram o arranque turístico desta cidade-praia. O Hotel Aliança, fundado por Domingos Martins, de início na Praça Nova e, posteriormente, com sucursal na Rua Miguel Bombarda, e o primitivo Hotel Reis, propriedade de José dos Reis Correia de Lemos, hoje Hotel Hispânia, foram determinantes para a hotelaria figueirense.
O número de prédios de aluguer foi crescendo e a apetência para a actividade turística também.
Em 1942 a Figueira da Foz possuía 28 hotéis e pensões, num total de 663 quartos. Refira-se, a título de curiosidade, que em relação ao longínquo ano de 1879 verificava-se já um aumento de quartos.

É nesta expansão hoteleira que no início dos anos 50 arrancam as obras que ergueram o Grande Hotel da Figueira.
De frente para o Atlântico, com privilegiado olhar sobre a Serra da Boa Viagem, o Grande Hotel da Figueira nasce num terreno da encosta e marca uma viragem na oferta hoteleira nacional.
Idealizado pelo arquitecto Inácio Peres Fernandes, esta modelar unidade hoteleira foi inaugurada a 28 de Junho de 1953.
Um terraço panorâmico e uma torre elegante fixaram a sua postura altiva ante o mar e a praia, que tantos poetas cantaram.









A Figueira, no dizer dos escritores Maurício Pinto e Raimundo Esteves, era um burgo plácido e quieto, para onde se ia gozar um veraneio tranquilo e doce.


Com tão poucos carros, as crianças brincavam na rua


Restaurantes no Bairro Alto

Câmara Municipal

Fonte Luminosa junto da Câmara Municipal

Pontes dos Arcos, entre a Figueira da Foz e a Gala

Escadas para a Esplana Engenheiro Silva



Praça da República

Piscina

Muralhas de Buarcos



Hoje, a Figueira da Foz é uma cidade que recuperou protagonismo e que, resoluta, segue para o século XXI.
Foste, és e serás bela Figueira da Foz


Figueira da Foz - Maria Clara

Texto adaptado de António Jorge Lé

Mercado Municipal Engenheiro Silva


No dia 24 de Junho de 1892, por volta das sete horas da manhã, foi inaugurado o Mercado Municipal Engenheiro Silva. Tal acontecimento foi motivo de festividade para a cidade, visto que inaugurou no dia de S. João, o mercado estava decorado com bandeiras coloridas, que faziam o belo contraste com o “rosa-velho” das paredes, ouviam-se os foguetes, que eram acompanhados pelas músicas da banda filarmónica “Figueirense”.
Mas nem tudo se tornou motivo de celebração. Os comerciantes que vinham dos arredores da cidade, como Tavarede, Brenha e Buarcos, tinham por hábito desfrutar da zona do mercado para venderem os seus produtos, situação que se modificou após a elevação e inauguração do Mercado. Assim o jornal da época “Correspondência da Figueira” alegou ser “injusto terminar com o mercado livre dos comerciantes ambulantes”, pois tornou-se ilegal a venda de mercadorias fora do espaço comercial que o mercado proporcionava, e que se tal acontece-se teriam de pagar um multa no montante de 1000 réis, um montante bastante elevado para a época e para os comerciantes, que na sua maior parte eram agricultores e não tinham rendimentos para pagar tal montante. Com isto a câmara municipal tomou a iniciativa de designar os locais de comércio livre, ajudando os comerciantes e evitando conflitos.
Tirando este senão, o mercado tornou-se um ponto obrigatório para os habitantes da cidade, onde, a partir das nove da manhã, a gente humilde se juntava, metia a conversa em dia, fazia as compras para as suas senhorias, fazendo parte da rotina. O mercado dispunha, também de um café, que se tornou moda rapidamente, e que, consoante o jornal “ O Figueirense”, conseguia fazer concorrência aos cafés chiques das grandes cidades como Lisboa e Porto, e onde os rapazes solteiros tentavam a sua sorte de encontrarem raparigas solteiras.
O Mercado Municipal Engenheiro Silva foi, então, importante para o desenvolvimento económico da cidade, pois dispunha de uma fartura de produtos, desde os legumes ao peixe e à carne, as lojas de pronto a vestir aos atoalhados, os gritos das peixeiras a chamar clientes à convivência entre o comerciante e o cliente, davam no seu conjunto um misto de cores e alegria á cidade da Figueira da Foz, que naquela altura ainda estava na moda.


























Entretanto o mercado já foi renovado e reinaugurado, mantendo o seu formato estético inicial, como os portões, a disposição das bancas, e o rosa-velho das paredes, modernizando apenas os sistemas de limpeza das bancas de peixe e melhorando a divisão entre as diversas lojas que lá se encontram. O mercado continua, assim, um ponto de encontro para os clientes habituais, as pessoas que mais idosas que continuam a tradição de ir à praça pela manhã, revivem-se memorias de bons tempos da nossa Figueira, num espaço renovado e de porte histórico para a cidade da Figueira da Foz.


Fotografias: Inês Marques

Palácio Sotto Mayor


Construído no início deste século por Joaquim Sotto Mayor, o Palácio Sotto Mayor trata-se de uma luxuosa vivenda, de estilo francês. Em toda a sua volta é de notar os seus amplos e maravilhosos espaços verdes.
O seu interior, ricamente decorado, remete-nos para a arte da conjugação do metal, madeiras e estuques, onde as suas diversas salas nos oferecem visões extasiantes: relógios, castiçais, estatuetas, lustres de cristal e bronze, porcelanas, etc.
Este espaço cultural também dá lugar a várias exposições, eventos de moda, concertos, reuniões e conferencias, palestras, etc.


A nível histórico, este incrível monumento começou a ser construído em 1902, demorando 4 anos até estar concluído.
O programa arquitectónico do imóvel, em «estilo compósito» de inspiração francesa, desenvolve-se em duas fachadas de entrada; uma fachada de lazer e a posterior de serviço.
O interior quadrangular é organizado à volta de um grande hall central, onde domina uma imensa clarabóia.
Nos finais dos anos sessenta chegou a haver um projecto do célebre Arquitecto Conceição Silva, para o local, que previa a demolição do velho Palácio e o surgimento de um Hotel de 5 estrelas.








Fotografias: Jorge Dias